Na infância, quando eu e minha irmã cansávamos de brincar de boneca, correr ou andar de bicicleta, às vezes imitávamos os adultos. Brincávamos de ser “gente grande”! Nossa casa era dividida em outras imaginárias, com objetos imaginários e carros imaginários. Tínhamos emprego e até namorado – imaginário, é claro.
Colocávamos os sapatos de salto alto da nossa mãe e usávamos o dinheiro do jogo banco imobiliário como se fosse nosso salário. Éramos professoras, empresárias e gerentes. Simulávamos problemas no trabalho e desentendimentos com os parceiros fantasmas. A brincadeira funcionava como um pequeno teatro, mas sem platéia.
Hoje, avaliando esse pedaço do passado, me pergunto: por que, durante a infância, algumas vezes caímos na besteira de imitar os adultos? Isso deveria ser terminantemente proibido! Uma hora essa fase complicada chega e sentimos uma saudade danada da meninice, do sorvete lambuzado na roupa, da coleção de machucados nos joelhos, das gargalhadas espontâneas e dos passeios improvisados.
Pensava que só eu e minha irmã havíamos tropeçado nessa bolha de invenção sobre a vida adulta, mas me enganei. Recentemente presenciei uma criança solitária discutindo com o namorado (imaginário também) na sala de uma casa. Acho que ela devia ter uns cinco anos de idade. A garota dizia, com olhar sério e nariz empinado: “Me deixa em paz! Não quero mais falar com você!”. Seria uma reprodução daquilo que ela vê em casa ou do excesso de bobagens que assiste na televisão?
A mãe, na sala ao lado, riu do episódio e aproveitou o momento para contar, com orgulho estampado no rosto, outras “aventuras” imaginárias da filha. A menina aguarda ansiosamente para entrar na escola. Espero que esse dia chegue rápido! Assim, quem sabe ela dá um sumiço no namorado Gasparzinho e vai curtir a alegria de ser criança.
Um dia a garota vai saber que a gente cresce e, junto com esse processo natural, os compromissos aumentam, as preocupações dobram e o tempo diminui. O amor pode ser farto ou escasso... Os amigos verdadeiros são poucos. E para ter sucesso na profissão tem que ralar muito.
Embora essas constatações sejam bastante óbvias, com certeza ela e eu não aprendemos isso na escola. A vida se encarrega de nos ensinar. E os nossos pais, por mais que se esforcem em disfarçar as preocupações com as contas a pagar e com o futuro dos filhos, em algum momento deixam escapar as mazelas dos adultos: estresse, impaciência, ansiedade, nervosismo, medo...
Talvez, um dos objetivos de quem inventou o Peter Pan era despertar nos adultos a criança que deixamos de lado quando crescemos. É bom que alguém desenvolva logo um novo personagem para estimular as crianças a enxergarem a fase boa da infância. Assim, elas não correrão o risco de escorregar na bolha imaginária e descobrir que ser gente grande nem sempre é divertido.
Colocávamos os sapatos de salto alto da nossa mãe e usávamos o dinheiro do jogo banco imobiliário como se fosse nosso salário. Éramos professoras, empresárias e gerentes. Simulávamos problemas no trabalho e desentendimentos com os parceiros fantasmas. A brincadeira funcionava como um pequeno teatro, mas sem platéia.
Hoje, avaliando esse pedaço do passado, me pergunto: por que, durante a infância, algumas vezes caímos na besteira de imitar os adultos? Isso deveria ser terminantemente proibido! Uma hora essa fase complicada chega e sentimos uma saudade danada da meninice, do sorvete lambuzado na roupa, da coleção de machucados nos joelhos, das gargalhadas espontâneas e dos passeios improvisados.
Pensava que só eu e minha irmã havíamos tropeçado nessa bolha de invenção sobre a vida adulta, mas me enganei. Recentemente presenciei uma criança solitária discutindo com o namorado (imaginário também) na sala de uma casa. Acho que ela devia ter uns cinco anos de idade. A garota dizia, com olhar sério e nariz empinado: “Me deixa em paz! Não quero mais falar com você!”. Seria uma reprodução daquilo que ela vê em casa ou do excesso de bobagens que assiste na televisão?
A mãe, na sala ao lado, riu do episódio e aproveitou o momento para contar, com orgulho estampado no rosto, outras “aventuras” imaginárias da filha. A menina aguarda ansiosamente para entrar na escola. Espero que esse dia chegue rápido! Assim, quem sabe ela dá um sumiço no namorado Gasparzinho e vai curtir a alegria de ser criança.
Um dia a garota vai saber que a gente cresce e, junto com esse processo natural, os compromissos aumentam, as preocupações dobram e o tempo diminui. O amor pode ser farto ou escasso... Os amigos verdadeiros são poucos. E para ter sucesso na profissão tem que ralar muito.
Embora essas constatações sejam bastante óbvias, com certeza ela e eu não aprendemos isso na escola. A vida se encarrega de nos ensinar. E os nossos pais, por mais que se esforcem em disfarçar as preocupações com as contas a pagar e com o futuro dos filhos, em algum momento deixam escapar as mazelas dos adultos: estresse, impaciência, ansiedade, nervosismo, medo...
Talvez, um dos objetivos de quem inventou o Peter Pan era despertar nos adultos a criança que deixamos de lado quando crescemos. É bom que alguém desenvolva logo um novo personagem para estimular as crianças a enxergarem a fase boa da infância. Assim, elas não correrão o risco de escorregar na bolha imaginária e descobrir que ser gente grande nem sempre é divertido.
(publicada no Diário de Cuiabá 31/01/2010)
10 comentários:
Sábado,minha prima que ainda vai fazer 3 anos brincava com uma calculadora como se fosse um celular. Perguntei a ela:
Com quem vc está falando Rafaela?
Respondeu: Minha mãe.
Pedi para falar com ela, e a menina disse: acabou.
Perguntei: acabou o que Rafaela?
Respondeu: O crédito.
As crianças são "reflexos" dos adultos, por mais que tentamos "molda-las" é o mundo que dara a forma determinante com que cada uma seguirá sua vida.
Ótimo! Adorei!
como muitos adultos dizem: "eu era feliz e não sabia". hoje, com uma certa idade (quase 30), eu me perco entre o presente de uma vida que caminha e o plano de um futuro incerto. as vezes, tenho vontade de brincar de esconde-esconde com a realidade e subir no alto de uma árvore, ficar escondido, quietinho... "xiiiiuuuu, to me escondendo do mundo"...
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não gosto do impresso local, mais nas próximas páginas que abrir vou procurar seus textos. escreva!!!
Obrigada pessoal!
Mas e o senhorito "anônimo"? Quem é vc?
Gostei do "senhorito". Vou usar trechos dos textos. :)
Eu sou um "pseudo tímido". Gosto de andar sozinho na balada e me socializar entre os "bandos". Não faço tratamento mais dou longos goles na cerveja. Isso por que gosto mesmo, não pra vestir a máscara de pseudo caçador que explora a fartura do mercado feminino. Sou homem, não nego minha origem. Gosto de mulher. Mais a tal fartura, quantidade de peitos, bundas e abdomens turbinados, naaaa, não não... isso jamais foi objetivo em uma balada.
Gosto de amigos, diversão, música e muita história pra contar pros netos. E claro, ainda não tenho netos e muito menos filhos.
Abs.
E o senhorito se chama "ALF"? rs...
Grata por visitar meu blog.
tbm nao consegui postar no ultimo post seu...
deixarei aqui
Sao Paulo é linda e feia. São Paulo é um gigantesco, até neste quisito, PARADOXO.
Uma cidade fascinante.
Um beijo Camila. Adoro suas visitas no Da Prosa
Aos "Ricardos" obrigada pelos comentários. Não entendo pq o link de comentário dos últimos posts sumiram... Se alguém souber me ajude.
Até mais...
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