sábado, 6 de março de 2010

Sampa

Podem falar o que quiser de São Paulo. O trânsito de carros e de pessoas, a chuva do final de tarde, a atenção dos engravatados às notícias do futebol brasileiro nas TVs instaladas nos restaurantes da Av. Paulista (inclusive com a participação maciça do público feminino) ou até mesmo sobre as vacas coloridas da mostra CowParede 2010 – uma exposição de arte que circula pelo mundo há alguns anos e que agora enfeita as calçadas da cidade e protagoniza fotografias de turistas deslumbrados, como eu. Mas é impressionante a sensação inexplicável que tenho quando passo por São Paulo! É uma mistura do que há de bom e de ruim também. Bom, porque tudo me parece novo, grande e em movimento. E ruim, porque é rápido demais e as coisas e pessoas parecem estar longe do meu alcance... Essa introdução, porém, não é o principal objetivo desse post. Hoje, dedico este espaço a uma pessoa que, graças ao seu olhar apurado, enxergou lugares e momentos até então ignorados por mim. Obrigada Martin. Devia ter deixado a máquina fotográfica o tempo todo contigo. Vou sentir saudades...










terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Miguel


Miguel,

Encantou a tarde pouco ensolarada de um grupo de fotógrafos e aprendizes, como eu.

domingo, 31 de janeiro de 2010

A bolha e o Peter Pan

Na infância, quando eu e minha irmã cansávamos de brincar de boneca, correr ou andar de bicicleta, às vezes imitávamos os adultos. Brincávamos de ser “gente grande”! Nossa casa era dividida em outras imaginárias, com objetos imaginários e carros imaginários. Tínhamos emprego e até namorado – imaginário, é claro.
Colocávamos os sapatos de salto alto da nossa mãe e usávamos o dinheiro do jogo banco imobiliário como se fosse nosso salário. Éramos professoras, empresárias e gerentes. Simulávamos problemas no trabalho e desentendimentos com os parceiros fantasmas. A brincadeira funcionava como um pequeno teatro, mas sem platéia.
Hoje, avaliando esse pedaço do passado, me pergunto: por que, durante a infância, algumas vezes caímos na besteira de imitar os adultos? Isso deveria ser terminantemente proibido! Uma hora essa fase complicada chega e sentimos uma saudade danada da meninice, do sorvete lambuzado na roupa, da coleção de machucados nos joelhos, das gargalhadas espontâneas e dos passeios improvisados.
Pensava que só eu e minha irmã havíamos tropeçado nessa bolha de invenção sobre a vida adulta, mas me enganei. Recentemente presenciei uma criança solitária discutindo com o namorado (imaginário também) na sala de uma casa. Acho que ela devia ter uns cinco anos de idade. A garota dizia, com olhar sério e nariz empinado: “Me deixa em paz! Não quero mais falar com você!”. Seria uma reprodução daquilo que ela vê em casa ou do excesso de bobagens que assiste na televisão?
A mãe, na sala ao lado, riu do episódio e aproveitou o momento para contar, com orgulho estampado no rosto, outras “aventuras” imaginárias da filha. A menina aguarda ansiosamente para entrar na escola. Espero que esse dia chegue rápido! Assim, quem sabe ela dá um sumiço no namorado Gasparzinho e vai curtir a alegria de ser criança.
Um dia a garota vai saber que a gente cresce e, junto com esse processo natural, os compromissos aumentam, as preocupações dobram e o tempo diminui. O amor pode ser farto ou escasso... Os amigos verdadeiros são poucos. E para ter sucesso na profissão tem que ralar muito.
Embora essas constatações sejam bastante óbvias, com certeza ela e eu não aprendemos isso na escola. A vida se encarrega de nos ensinar. E os nossos pais, por mais que se esforcem em disfarçar as preocupações com as contas a pagar e com o futuro dos filhos, em algum momento deixam escapar as mazelas dos adultos: estresse, impaciência, ansiedade, nervosismo, medo...
Talvez, um dos objetivos de quem inventou o Peter Pan era despertar nos adultos a criança que deixamos de lado quando crescemos. É bom que alguém desenvolva logo um novo personagem para estimular as crianças a enxergarem a fase boa da infância. Assim, elas não correrão o risco de escorregar na bolha imaginária e descobrir que ser gente grande nem sempre é divertido.

(publicada no Diário de Cuiabá 31/01/2010)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Redescobri a senha...

Caros colegas,

Demorei, mas voltei. Um pouco ressabiada de continuar expondo aqui meus pensamentos, mas... voltei. Não prometo constância. Prometo um pouco mais de presença, menos poeira e teias de aranha neste blog do que em 2009.
Aproveito o espaço para desejar feliz 2010! Saúde, health, salud...

p.s. Descobri este pôr-do-sol maravilhoso na janela do meu quarto. Agora, todos os dias corro para vê-lo. É o melhor presente nestes dias de horário de verão.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pontos

Se quem conta um conto aumenta um ponto, quem usa a vírgula prolonga uma respiração e quem prefere as reticências não esclarece um pensamento.

domingo, 21 de junho de 2009

Aos tímidos e pseudo tímidos

Pode ser que alguém discorde, mas no fundo no fundo, bem lá no fundinho, todo mundo é tímido! Quando o assunto é amor, então, nem aqueles com doutorado na escola da vida, que ganharam na mega-sena ou que já conquistaram a aposentadoria escapam ilesos da timidez. Até os mais extrovertidos da turma, do trabalho e da família, em algum momento ou situação, não conseguem fugir do acanhamento.
O problema é achar que timidez é sempre um problema. Alguns gastam horrores com terapia na expectativa de se livrar desse “mal”. Nada contra, mas, cá entre nós, para que o desespero se ela está impregnada em distintas proporções, é claro, no DNA de cada um? Há também aqueles que preenchem seus horários livres na internet, especialmente nos sites de relacionamento, na vã ilusão de que ali terão todas as chances de se desfazer da vergonha. Iniciam longos bate-papos elaborados por códigos que somente os viciados nesse mundinho virtual decifram (ahahah... kkkk... ehehe...). Depois de um tempo o assunto vai esfriando, esfriando, e nada como uma boa desculpa esfarrapada, somada a um belo ponto final e a uma inexplicável queda de energia para encerrar a prosa. Um dia terão que encarar o lado de fora da lan house e aí quem sabe o Santo Antônio dá aquela forcinha.
Tem também alguns espertos que usam a timidez como desculpa para tudo. Um exemplo é acenar um alô para uma pessoa, que está a alguns metros de distância, e não ser correspondido. Vivencio situações como essa com uma certa frequência por aqui. Parece que estou quase sempre dando tchau para o “Além”, quem sabe um dia ele me vê! Tudo bem, pode ser que a criatura não tenha me visto, ou que seja míope e justo naquele dia tenha esquecido os óculos no banheiro. Ainda assim, no fundo no fundo, bem lá no fundinho, continuo achando que esse comportamento tem outro nome: falta de educação.
Nas baladas é mais fácil identificar o perfil de um pseudo tímido. Ele divaga pelos cantos sozinhos ou, geralmente, em bando. Sempre com uma cerveja ou um cigarro na mão, pois não pode deixá-la simplesmente livre, leve e solta. Precisa urgentemente segurar a bendita da garrafa e, em alguns casos, se entupir de longos goles da bebida para criar coragem ainda que a presa tenha dado todos os sinais verdes possíveis de interesse. Como o mercado feminino anda farto, ele pensa que está no direito de escolher e faz o “tipo” de difícil. Se o ambiente for propício para dançar a dois, a coitada pode esquecer! Na maioria das vezes, esperar por um simples convite significa o mesmo que aguardar a tarde inteira por uma consulta na ginecologista.
Enquanto isso, o tímido de verdade, quando resolve tomar iniciativa e se aproxima da garota, também pode estar para lá de tonto, mas a pobre mortal, tão carente quanto ele, resolve dar-lhe uma chance na frustrante noitada, afinal, vai saber se amanhã o sapão com bafo de cerveja não vira um principão?! Se beijam e vão para suas casas convictos de que ganharam na loteria noturna. O dia seguinte? Aí é outra crônica...
E o que me fez escrever sobre esse assunto? Ah... sou tímida demais para contar. Mas eu continuo acreditando que, apesar de tudo, no fundo no fundo, bem lá no fundinho, toda timidez tem sua beleza.
(publicada no jornal Diário de Cuiabá, em 21 de junho de 2009)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Você escolhe!

Dia desses alguém me perguntou o que era felicidade. Oh perguntinha cretina essa! Minha vontade era responder: “procure no dicionário!”. Mas, depois de alguns segundos de reflexão, cheguei à conclusão que nem os dicionaristas Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Antônio Houaiss, com o perdão da minha indelicadeza, definem na essência esse substantivo feminino tão abstrato e algumas vezes raro.
As perguntas aparentemente mais óbvias são sempre as mais difíceis de responder. Hoje, tenho a impressão de que aparentamos mais felicidade do que a vivemos com intensidade. Pensei nessa turbulência de informações às quais somos obrigados a nos adaptar e nesse mundo virtual que consome e mascara nosso comportamento real. Colocamos mil fotos no orkut ou fotolog para expor as viagens mais incríveis, as baladas inesquecíveis, os amigos mais divertidos e os namoros bem-sucedidos. Ninguém sabe o que aconteceu antes ou depois daqueles cliques. Ainda bem!
Há alguns anos, se alguém perguntasse para uma adolescente de 15 anos o que era felicidade, ela talvez responderia: “ir para a Disney”. Menos mal, além de conhecer um outro país, aprenderia outro idioma e faria novos amigos. Agora, tenho dúvidas sobre as possibilidades de resposta, embora creia que uma delas seria: “colocar silicone”. Mal sabem as coitadas que o câncer de mama está aí, pega qualquer uma de surpresa (infelizmente tão comum como uma gripe) e não escolhe mais idade, muito menos cor, religião, estado civil ou status social. O Ministério da Saúde e os médicos não advertem sobre essa doença como deveriam e, nas poucas vezes que isso acontece, precisariam assustar essa garotada em vez de só alertar.
Não sei como ainda não inventaram (se existem, estou desinformada) os “peitologs”, “bundalogs” ou “abdomenlogs” para expor na internet, por meio de fotos, os peitos, bundas e abdomens mais turbinados do Brasil. Já pensou? Um concurso miss peituda ou bunduda? Será que já existe e é mais uma novidade sobre a qual, graças a Deus, não estou sabendo?
Hoje, para mim, felicidade é inspirar saúde e expirar os medos e desilusões. É o prazer de estar na estrada, de sentir o vento na cara, de jogar conversa fiada e de rir de madrugada. É dizer não quando convém e sim quando não há desdém. É compartilhar segredos com as irmãs tendo a certeza de que elas trancam as informações num cofre e jogam fora a chave do cadeado (ai delas se não respeitarem esse pacto!). É tirar uma soneca num domingão à tarde para não ter que ouvir a voz do Faustão. Ou tomar um sorvete com sua avó maravilhosa e descobrir as peripécias do passado dela. É caminhar no parque mesmo com esse calor insuportável de Cuiabá. É ir ao cinema, de preferência acompanhada, mas se não der, paciência, vá sozinha, poxa! É rever um amor platônico da infância, aceitar o friozinho adormecido na barriga e não sentir vergonha disso. É escutar o mesmo CD numa tarde de sábado e não se importar com os ouvidos dos vizinhos. É olhar no fundo dos olhos sem desviar do foco. É admitir a timidez, mesmo sabendo que algumas vezes ela atrapalha... É cair e depois levantar com naturalidade, como as crianças fazem e como você também fez na infância. É coragem para errar e ânimo para ajustar. É comemorar uma vitória importante, principalmente quando se trata das pessoas que você mais ama na sua vida – a família –, brindar com os amigos e, por que não, com os desconhecidos. Para mim, são inúmeros os significados de felicidade. Levaria uma eternidade para responder. É por isso que “o alguém” teve que se contentar com a minha curta e grossa resposta: “felicidade é o que você escolhe”.
(publicada no jornal Diário de Cuiabá, em 8 de fevereiro de 2009)