quinta-feira, 11 de junho de 2009

Desejo!

É impressionante como todo final de ano somos tomados por um sentimento bastante comum: de renovação. Vontade de que o ano velho termine logo para dar espaço ao novo que vai chegar. Assim, prometemos corrigir os erros do passado e fazemos inúmeros planos para o futuro. Agimos como se pudéssemos parar o tempo, apagar ou guardar lembranças para, então, de alguma forma começar novamente. A partir daí, traçamos metas, ou retomamos aquelas que ficaram engavetadas, como iniciar um regime, falar menos, agir mais, pensar menos, cantar mais...
Aliada a essa sensação, algumas pessoas, como eu, colocam em prática antigos rituais que, a meu ver, poderiam ser facilmente seguidos no decorrer do ano velho, mas que, infelizmente, só são lembrados às vésperas do novo ano. Então, entram em ação as vassouras, pás e latas de lixo, nas quais depositamos as poeiras do passado, as frustrações e bugigangas que tomam espaços desnecessários no guarda-roupa, estante ou qualquer canto da casa.
Todos os anos prometo deixar os armários organizados, mas a simples tarefa, por incrível que pareça, é quase humanamente impossível para mim. A bagunça fica relativamente “ajeitada” até a primeira semana de janeiro e depois somente um “guia” para me ajudar a encontrar qualquer objeto. Que bom seria se todas minhas promessas e metas não praticadas fossem tão básicas quanto essa...
Mas o que realmente me levou a pensar sobre a renovação foi que, casualmente, conversando com alguns colegas, percebi como é natural essa vontade: de querer consertar, mudar, esquecer, aprender ou começar somente no ano que vem. Alguns deles relataram que fazem listas das metas a serem cumpridas para não se perderem no meio do caminho, mas acabam lembrando dos compromissos pouco antes da virada do ano. Outros desabafaram, em breves minutos, a sorte que tiveram em 2007 com a simpatia que fizeram à meia-noite do dia primeiro de janeiro. “Não sei o que aconteceu com aquela simpatia, mas sei que vou repetir este ano”, contou o mais convicto.
Há também aquelas pessoas, assim como eu, que não resistem ao apelo das revistas que apresentam escandalosamente nas capas as previsões astrológicas para o ano. Algumas dicas até convencem, mas outras, de tão superficiais, nos deixam frustrados com o investimento depositado nas bancas. Mesmo não dispensando uma ajuda dos astros e algumas simples simpatias de fim de ano – afinal, vai que elas dão aquele empurrãozinho que precisava –, para a passagem de 2008 resolvi não fazer nada. Somente vou desejar.
Desejo que o tempo continue sendo sempre o nosso melhor amigo, pois é ele que nos ajuda a esquecer ou lembrar, a sonhar e planejar e, principalmente, a aprender. Que sejamos mais verdadeiros uns com os outros e menos “personagens” do cotidiano. Mais reais e menos “virtuais”. Mais corajosos e menos iludidos. Ou que apenas fiquemos “com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita, é bonita...”, como na música de Gonzaguinha, que sabia a “beleza de ser um eterno aprendiz”. Feliz 2008!
(publicada no jornal Folha do Estado, em 30 de dezembro de 2007)

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