quinta-feira, 11 de junho de 2009

Velho? Não senhora!

Já vou logo avisando que não sou nenhuma expert em fazer críticas de filme com a profundidade daqueles profissionais que lemos por aí. Pouco entendo sobre luz, câmera e ação. Apenas assisto, reflito e me divirto. Mas desta vez, não posso deixar de fazer um breve comentário sobre o filme brasileiro “Chega de Saudade”, dirigido por Laís Bodanzky.
Tive a oportunidade de vê-lo em um cinema de São Paulo onde, curiosamente, a maioria dos telespectadores era composta por senhoras de cabelos brancos e de traços marcantes que deixavam evidentes os longos anos de vida.
Num primeiro momento, achei que o público era um reflexo do filme a que eu iria assistir, mas logo fiquei sabendo que a localização do cinema era mais apropriada para “maiores de idade” por ser de fácil acesso na movimentada capital paulista.
Sem saber muito sobre o enredo, descobri na fila do cinema que todas as cenas foram gravadas em um único lugar: um bar, onde todos os personagens dançavam muito. Então, pensei comigo: “que chato!”. Mesmo assim, com o ingresso na mão, lá fui eu acompanhada do “preconceito”.
Este, por sua vez, cedeu espaço ao prazer assim que escutei as primeiras músicas cantadas pela insubstituível Elza Soares. Além disso, os atores e atrizes de peso da televisão e do teatro brasileiros que compunham o elenco, como Cássia Kiss, Betty Faria, Stepan Nercessian, entre outros, demonstravam a boa qualidade do que estava por vir.
Mas não foram apenas a trilha sonora e os atores que me deixaram encantada com o filme. Foi também pelo assunto, sempre abordado de diversas formas e que não sai de nossas mentes, causa noites de insônia e aparece com freqüência nas conversas de bar. Faça chuva ou sol, seja jovem ou não, ele sempre está ali: o danado do amor.
Laís Bodanzky conseguiu reunir naquele pequeno espaço restrito a mesas, cadeiras, um palco e uma pista de dança, todos os tipos de amores pelos quais já passamos, gostaríamos de experimentar, que talvez nunca tenhamos ou que ainda viveremos. De platônico ao puro e verdadeiro, os amores impossíveis, sedutores, não correspondidos, traidores, desesperados, desiludidos e ciumentos.
Difícil era saber, embora a curiosidade fosse grande, com qual deles a platéia mais se identificava. Quais vivenciavam? Com qual terminariam? Pensava no público para escapar de minhas particulares indagações...
A direção do filme tomou cuidado para não deixar nenhum exemplo de fora. E nesse baile cheio de peculiaridades também não podiam faltar, é claro, personagens como João que amava Maria, que gostava de José, que era encantado por Joana, que não tirava os olhos de Pedro, que não palpitava por ninguém.
Outro exemplo bem colocado foram os amores fortuitos, em que o prazer se restringe a apenas uma noite, nas pistas de dança, nos escuros. Estes sim, independentemente da idade dos envolvidos, são os mais freqüentes em nossos dias. Por quê? Não sei... É bom? Talvez... Muito de vez em quando.
Sensível e bem-humorado, o filme “Chega de Saudade” deixou claro para mim que não importam os anos, séculos e o grau de modernidade em que vivemos: o amor definitivamente não envelhece. Seja bom, angustiante, amigo, ilusório ou traiçoeiro, ele sempre está aqui e ali.
Pena é que existem pessoas que insistem em não compreender isso. No final do filme, quando me levantei da poltrona, pensativa e com vontade de sair dançando, ainda tive que ouvir de uma senhora: “E você garota? O que faz aqui? Isso é para velho!”.
(publicada no jornal Folha do Estado, em 4 de maio de 2008)

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